quinta-feira, 4 de março de 2010

Uma Cena de Cinema




Acabei de assistir uma cena, que com certeza ficará marcado em mim, assim como ficou marcado o choro angustiante de Vada, no velório de seu melhor amigo Thomaz, interpretado por Macalay Culkin, no filme Meu Primeiro Amor.

A cena em questão que me marcou é de um filme pornô, protagonizado pela atriz Leila Lopes e Ana Midori, onde filmam uma cena de sexo entre duas lésbicas. Leila Lopes fez sucesso na década de 90, onde trabalhou em novelas como: Pantanal da TV Manchete, Rei do Gado e Malhação em 1997 na TV Globo.

Confesso que a curiosidade de ver uma atriz que conhecia das novelas, atuando em um filme pornô, foi mais forte do que qualquer sentimento puritano que pudesse repudiar tal ato.

A cena em questão é do filme Pecado Final, onde Leila Lopes e Ana Midori deixam claro que aquele momento de desejo era único, somente delas. Não estavam ligando se estavam saciando o meu desejo, ou de qualquer outra pessoa, que estivesse vendo a cena, dentro de sua solidão efêmera. Na cena, elas procuram matar a fome da carne, sem nenhum tipo de pudor ou algum tipo de constrangimento, procuraram saciar somente o desejo delas, e de mais ninguém.

Não vi uma cena de sexo entre duas lésbicas, longe disso. Vi uma cena de amor entre duas mulheres, onde se deitavam em uma cama de casal, onde suas coxas bronzeadas e bem torneadas se confundiam a brancura dos lençóis. Na cena das duas, existia uma sinergia que jamais tinha visto, existia um toque diferente, uma troca de olhar que beirava ao romantismo, fugindo totalmente do clichê da pornografia escrachada, que estamos acostumados a ver

Era uma cena natural, uma cena erótica é verdade, mas uma cena natural. Onde as atrizes não precisaram fazer cara de safadinha, nem fazer alguma pose acrobática, nem gemidos extravagantes se ouvia. Os gemidos eram abafados, talvez para manter ainda mais intima aquela relação.

A pornografia em si, foi criada para ser consumida, não para ser vivida em sua exatidão. Por isso mesmo que alguns filmes, muitas vezes dirigidos por mulheres, deixam nós pobres mortais mais próximos das cenas vista nos filmes, pois fogem daquele clichê padronizado, onde o enredo do filme é o de menos.

Com o crescimento da exposição da pornografia, criou-se uma certa ditadura do sexo.Onde mulheres ficam de certa forma constrangida de não ter uma bunda holográfica nem um peito plastificado da atriz americana que vê na tela de sua TV, ou do monitor de seu computador.

Na maioria das vezes, a mulher não se vê nesses tipos de filme, tal ato foge de sua realidade, sente culpa por não ter libido suficiente para realizar aquela posição acrobática, sente inveja por não conseguir ter os ditos orgasmos cinematográficos, em que parece ser possível tocar o céu, de tão surreal que aparente ser.

Na maioria dos casos o homem com seu orgulho machista se recusa a assistir a um filme pornô acompanhado de sua parceira. Mesmo sabendo que isso possa melhorar a relação e o sexo em si.

O fato de saber que seu pinto não tem 23 cm e que não tem tanta resistência e que nunca vai conseguir proporcionar um orgasmo cinematográfico para sua companheira, desestabiliza, tira do eixo. O sexo solitário enclausurado, feito no banheiro é o preço a se pagar por sua inferioridade congênita.

A cena que me motivou escrever sobre o tema, mostrava dois corpos desnudos, em um ato que já fora sagrado no começo dos tempos, o ato da satisfação pela carne, satisfação de consumir e ser consumido pelo desejo.

Foi uma cena bonita, uma cena clássica do envolvimento de duas pessoas pelo mesmo desejo. Foi uma cena que não me deixou excitado como deveria, pois buscava uma cena de sexo e encontrei uma cena de amor entre duas mulheres.

Texto de autoria de Kadan Cordeiro, fora devidamente registrado em cartório.

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